29 de mar. de 2016

Indecisão

Descobri que minha obsessão por cada coisa em seu lugar, cada assunto em seu tempo, cada palavra em seu estilo, não era o prêmio merecido de uma mente em ordem, mas, pelo contrário, todo um sistema de simulação inventado por mim para ocultar a desordem de minha natureza. Descobri que não sou disciplinado por virtude, e sim como reação contra a minha negligência; que pareço generoso para encobrir minha mesquinhez, que me faço passar por prudente quando na verdade sou desconfiado e sempre penso o pior, que sou conciliador para não sucumbir às minhas cóleras reprimidas, que só sou pontual para que ninguém saiba como pouco me importa o tempo alheio. Descobri, enfim, que o amor não é um estado da alma e sim um signo do Zodíaco. Gabriel Garcia Marques (Memórias de Minhas Putas Tristes - Pg. 74)
A nossa própria natureza transgredi nossas opressões, sou como um pelicano no deserto, buscando ardentemente por uma miragem de água, ou será a ilusão de que eu posso concertar as coisas que vem e não as que vão.
Em minhas indomáveis indecisões quando não sei onde vou, sei apenas que me moldo para que não vejas minhas incertezas, diante de um sol brilhante de luz ofuscante escondo dentro do meu ser todas as indecisões que alguém tão decidido não pode ter e eis a questão ser ou não ser, amar ou não amar, ser eu ou apenas aquilo que os outros projetam de mim mesmo, eis enfim meu maior castigo, não ter a certeza de quem eu sou, apenas sei que em minhas memórias douradoras de um espaço de tempo pouco ofuscante um dia tive a certeza de nada mais será como já foi num inicio claramente memorável.
Sim, incontestável incerteza de um ser incapaz de definir onde ou quando deve agir, apenas seguindo o vento, num movimento inerte deixando assim a vida passar.

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